por Marta Neves
A escrita de JoMaKA ou Passarinho Loque Esse
Faz mais ou menos um ano que João me enviou esses escritos. Eu tinha ouvido falar que o cara tinha talento, mas nada é como a gente mesmo ver de perto.
E vi: um jogo de palavras e desenhos escorregando no espaço entre plano e improviso, criando e quebrando ritmos, invadindo. Eram observações, anotações, devaneios e muita história de vida e de vontade dela mas era ainda, mais que isso, uma dança, uma possibilidade corporal do texto.
Era uma escrita (considero que o desenho é escrita
também) corporal, uma ocupação - palavra tão esgarçada e apropriada pela lógica do mercado, mas que o João mantém no sentido original de coisa não domesticada.
Ele escreve assim como quem entra com o corpo na marra e na imposição de presença, como um ator num palco ou numa praça que mexe um braço e muda o ambiente, deixando a gente em passo de espera pro próximo movimento.
Mais cedo hoje o Fernando me entregou uma xícara de café.
Quando fui pegar a xícara o dedo dele estava enovelado na asa, não largava a louça.
Então eu pensei: como alguém entrega uma coisa e aperta, entrega e não larga?
João escreve desse jeito, tem uma tensão, uma força de segurar igual e contrária àquela que segue adiante.
Tem excesso e fome na mesma medida.
Tem algo que é do próprio cara, da vida dele, feita da contradição contínua entre querer estar em todas as ações, olhar para o mundo em estado de inanição desesperada, e, ao contrário, meter a cabeça na parede e achar que é melhor parar. Esse dedo agarrado na xícara, essa cabeça na parede, essa fome de tudo, essa suspensão e agressão, essa arrancada que agarra e vai é o tal lado físico da escrita que avança e para e avança de novo para depois parar e avançar.
Coisa de dança e de teatro, daí eu dizer que é uma escrita corporal.
Mas por mais que essa dança escrita do João siga e se detenha, ela já tomou movimento e ele não vai deixar de escrever e nem de inventar seus mil projetos, seus milhões de compromissos, não vai mais deixar de implicar com a vida e com as palavras que nos fabricam e nos destroem.
É como as pessoas num ônibus.
Quando o motorista freia, todo mundo vai pra frente pois a tendência era continuar a ir adiante. Isso na Física tem o nome de inércia.
A inércia do João é seguir adiante, dar a cara a tapa.
Agora que ele começou não dá mais para parar.
Já que, como ele mesmo diz, “o muro da vida é feito de vento”, a inércia do João é uma força
(mas isso a gente não aprende na Física).
Registros do fotógrafo Alexandre Hugo em GRUTA! na data de lançamento do 'Generalidades ou Passarinho Loque Esse'
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